ESQUERDA? COMO ASSIM?


ESQUERDA? COMO ASSIM?

Meu barbeiro, na última vez em que fui cortar o cabelo, antes dessa epidemia de Covid-19, estava com a televisão ligada num canal que não reconheci. Perguntei que canal era aquele, então respondeu:

- Canal tal (esqueci qual era).

Em seguida completou, sem eu ter dito nada:

- Parei de ver a Globo, ela está muito de esquerda.

Eu só consegui dizer: É mesmo? (Nada mais disse, até por questão de segurança, afinal era ele quem estava com a tesoura na mão.)

Uns dias depois, um primo meu, a propósito de uma notícia que eu vira na Folha de São Paulo, que não era sobre o Brasil nem sobre política, me respondeu pedindo para não enviar mais notícias da Folha porque a Folha era de esquerda.

Pois é.... Embora eu não goste desse tipo de classificação esquerda-direita, de modo geral, tenho sido “classificado” como alguém de esquerda e nunca me incomodei com isso, considerando o que eu entendia por esquerda.

Como se sabe, esses termos surgiram na França, em 1789, na Assembleia Nacional, em que os partidários do rei sentavam-se à direita do presidente da Assembleia e os simpatizantes da revolução à esquerda. Quer dizer: os da direita eram a favor de manter a monarquia e os privilégios dos nobres e ricos e os outros queriam modificá-lo. Assim nasceu essa “divisão”: DIREITA é quem quer manter o sistema do jeito que está e ESQUERDA é quem quer modificá-lo.

Sempre entendi por esquerda aquelas pessoas que acham que é preciso criar uma nova ordem política e econômica que garanta que todos os seres humanos tenham uma vida digna, que não se morra mais de fome ou por falta de assistência médica. Para mim, isso implica que:

  • Acredito que é preciso criar uma estrutura econômica que garanta que todos os seres humanos tenham condições dignas de vida;
  • Acredito que é preciso haver um controle social das formas e meios de produção para garantir que haja justiça social, de modo que nenhuma pessoa seja explorada por outras pessoas ou empresas;
  • Acredito que é preciso criar normas e instrumentos para evitar que o enriquecimento e a ganância de alguns destrua a natureza;
  • Acredito que a propriedade privada tem que ter um caráter social;
  • Acredito que todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião, de religião, de ideologia, contanto que não representem agressão ou opressão contra outros seres humanos;
  • Acredito que todos os seres humanos devem ser tratados com respeito e dignidade, mesmo que sejam criminosos;

Portanto:

  • Sou contra esse sistema econômico em que um mínimo de poderosos controla 50% da riqueza do mundo, enquanto bilhões de seres humanos são excluídos e vivem famintos;
  • Sou contra esse projeto neoliberal radical que quer entregar tudo, inclusive os sistemas de saúde, previdência e segurança nas mãos de empresas privadas;
  • Sou contra a privatização de empresas nacionais que são essenciais para que o Brasil tenha controle sobre sua riqueza (mas não tenho nada contra a privatização em si mesma);
  • Sou contra tudo aquilo que coloca os interesses do capital (do “mercado”, como gostam de dizer os comentaristas econômicos hoje) acima do bem estar de todo o povo.
  • Sou contra qualquer forma de violência social, política, policial etc.

Não preciso detalhar mais “meu esquerdismo”, que é nessa linha.

Entretanto, ao ouvir que a Globo e a Folha eram de esquerda, fiquei incomodado. Com certeza, eu não estou do mesmo lado da posição política e econômica deles. Eles foram alguns dos grandes responsáveis pela situação em que o Brasil está hoje. Ou seja, a guerra deles contra o governo do PT não tinha nada a ver com questões éticas ou combate à corrupção. A luta verdadeira deles era para colocar um governo que retomasse os projetos de privatização das empresas estatais e que fosse mais favorável aos interesses do grande Capital.

Acontece que hoje se criou um clima de confusão ideológica em que qualquer um que discorde do governo Bolsonaro é de esquerda. Na verdade, os bolsonários não conseguem perceber que, na verdade, a Globo, a Folha de São Paulo e todos os grandes meios de comunicação estão prontos para apoiar o governo enquanto o Paulo Guedes, que quer privatizar tudo, estiver lá. As reações desses meios de comunicação contra o presidente são porque é o próprio presidente que cria esses problemas atacando a imprensa a todo momento. Aliás, acho que essas agressões do presidente a esses meios de comunicação é apenas um jogo de cena para agradar a seus seguidores.

CONCLUINDO: por via das dúvidas, estou pensando seriamente em parar de me considerar “de esquerda”. Sei lá... De repente, eu fico esquerdista que nem os Marinho ou os Frias ou os Mesquita....