A CATEQUESE E JESUS


PALESTRA PARA CATEQUISTAS NA COMUNIDADE JESUS OPERÁRIO
(em 29/01/2014)
 
 

A CATEQUESE E JESUS

 
 
O documento nº 94 da CNBB destaca que Jesus deve ser o centro de toda a evangelização: “Toda ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. Jesus Cristo é nossa razão de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e agir (nº 4)”.
A catequese, sendo um instrumento especial de evangelização (embora não o único pois toda a ação da Igreja e evangelização), deve ter isso muito claro e deve ter um programa em que Jesus seja mesmo o centro. Isso quer dizer que Jesus deve ter prioridade absoluta. Na verdade, eu penso que o programa da catequese devia começar com a apresentação de Jesus e, a partir dele, apresentar os demais aspectos da fé cristã.
Eu tive uma turma de catequese de adultos em que eu fiz essa experiência. Ao invés de começar falando sobre Deus (quem é, que é criador etc.), eu comecei de Jesus e comecei exatamente do fato que deu origem à fé cristã: a ressurreição.
E por que comecei falando da ressurreição?
Exatamente, porque é por causa da ressurreição que estamos aqui reunidos hoje e nos chamamos de cristãos. Se Jesus não tivesse ressuscitado, não haveria a nossa fé. Basta lembrarmos que os discípulos só acreditaram que Jesus era mesmo o Messias, o Cristo, após o susto que levaram com a ressurreição. Além disso, era assim que os apóstolos que começavam sua pregação. Era esse o querigma apostólico: “Cristo morreu por nossos  pecados, segundo as Escrituras, e ressuscitou, segundo as Escrituras...”.
LER 1Cor 15, 1ss (leiam o capítulo todo com calma).
Portanto, sendo Cristo o ponto de partida, o centro e o ponto de chegada, nossa evangelização deve levar os catequizandos a conhecer e a amar Jesus Sugiro que, para facilitar isso, leiam sempre textos bíblicos durante os encontros, mas leiam com calma, meditando, explicando e aprofundando cada frase. Não leiam apenas como se fosse uma citação – aquela leitura rápida que, geralmente, se faz antes ou depois dos encontros. Não faz mal se não conseguir apresentar o tema. O importante é apresentar Jesus.
Mas vamos ver agora como é que Jesus ensinava, para isso servir de exemplo para nosso trabalho.
Como sabemos, o Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. A palavra “evangelho” significa “boa notícia”. Então a boa notícia Jesus vem nos dar é que o Reino de Deus já chegou (V. Lc 16,16).
Assim, todo o ensinamento de Jesus é para mostrar aos homens como é o Reino de Deus. Vamos ler e analisar com calma duas parábolas sobre o Reino.
As parábolas são comparações. Jesus usa coisas simples, realidades conhecidas, acontecimentos da vida do povo, para falar do Reino. Ele não fica ensinando dogmas ou teorias. O que ele ensina é como perceber e viver a realidade do Reino de Deus.
De um lado, podemos dizer que suas mensagens são fáceis de ser entendidas. Por outro lado, elas exigem que a pessoa pense, reflita. Portanto, embora fáceis à primeira vista, elas exigem um esforço mental para serem compreendidas de forma completa e correta. Aliás, por isso ele mesmo repetiu a profecia de que “muitos vendo, não veem e, ouvindo, não entendem”.
Vejamos as parábolas:
Mt 22,1-14: o banquete nupcial. Analisando a parábola, temos:
1º – o Reino de Deus é gratuito. É uma festa que o rei oferece de graça pelo casamento de seu filho;
2º – a festa não será cancelada, mesmo que os primeiros amigos do rei não compareçam, outros serão convidados;
3º – os primeiros amigos do rei é o povo de Deus (os judeus, os sacerdotes antigos; nós, hoje).
4º – os amigos, que são aqueles que deveriam ser mais abertos ao convite, são os mais decepcionantes e, como amigos, são os que melhor deveriam conhecer e amar o rei; por isso, Jesus fala com imagens fortes da punição desses amigos;
5º – todos são chamados – bons e maus – pois o Reino de Deus não é excludente, é para todos, pois muitos, no tempo de Jesus e hoje, achavam e acham que o Reino é só para algumas pessoas e Jesus quer incluir a todos;
6º – mas há um convidado que veio das ruas sem o traje adequado e o rei o expulsa. Isso nos incomoda muito, pois parece arbitrariedade do rei Contudo, lembremos que em todos os povos a cerimônia de casamento é um ritual que exige um traje especial, portanto, embora todos tivessem sido convidados – e todos estavam vestidos adequadamente – um indivíduo veio com a roupa inadequada. O Reino é para todos, mas exige que cada um que quer entrar nele esteja vestido da maneira certa, ou seja, esteja imbuído dos valores do Reino.
7º – mas reparemos, finalmente, que o rei não chega e simplesmente expulsa aquela pessoa sem a roupa adequada. Ele tem o cuidado de dar uma chance para o outro se explicar. Mais ainda: o rei não fala com arrogância ou prepotência, apenas pergunta de forma tranquila, chamando-o de amigo: “Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?” O rei não é um juiz agressivo, pronto para punir, ele vê e trata a todos como amigos. Infelizmente, neste caso, o convidado sem a roupa de casamento não respondeu nada.
Como vimos, o ensinamento por parábola é simples, direto, mas exige que o ouvinte analise bem o que está ouvindo.
E em síntese, por essa parábola, entendemos que o Reino de Deus é algo que parte do próprio Deus, é iniciativa de Deus; o Reino de Deus é para todos, é includente; entretanto, para participar do Reino de Deus é preciso “vestir a camisa do Reino”, viver como cidadão do Reino. E Deus não é arbitrário, nem está ansioso para condenar ninguém, ele sempre dá mais uma chance, pois Deus considera todos (bons e maus) como seus amigos.
Outra parábola: Lc 6,1-8 – o administrador infiel ou desonesto. Essa parábola nos mostra outro aspecto do compromisso com o Reino.
Essa parábola é desconcertante, pois Jesus apresenta como modelo alguém que foi desonesto.
É preciso não confundir uma coisa. O administrador não foi desonesto nessas transações que fez depois de ser demitido. O que ele fez aí foi apenas renunciar a uma parte da comissão ou juros a que tinha direito pelo empréstimo feito a outros e assim conseguir a simpatia deles. Até porque se ele estivesse sendo desonesto nesse momento, nenhum dos outros ia arranjar emprego para ele, pois iam pensar que ele não era de confiança. Aliás, reparem que, na verdade, Jesus não disse que o administrador era desonesto, ele disse que o patrão recebeu uma denúncia e o dispensou imediatamente sem ouvir explicação do administrador. Isso posto, vamos ao importante:
1º – O administrador tem consciência de seus limites;
2º – Busca uma alternativa para ter alguém que o receba em casa;
3º – Renuncia ao ganho ou lucro imediato (o valor que ele reduziu das dívidas) em razão de um objetivo futuro e maior (ter onde ficar).
Então o que Jesus diz que falta aos “filhos da luz” são exatamente essas qualidades. Para Jesus, para alcançar o Reino não é uma questão ser bonzinho, bem comportado, honesto, perfeito. O que buscam o Reino, os cristãos, devem ter consciência de seus limites, para não se meterem a fazer coisas que não sabem ou não podem (aquele tipo de pessoa que acha que “na hora Deus ajuda, o Espirito Santo inspira etc.), mas não perder de vista o objetivo principal (a casa para onde queremos ir, o Reino) e, principalmente, não esquecer que é preciso saber “negociar”, saber perder um pouco agora para conseguir muito mais depois.
Essa parábola tem muito a ver com nossas atividades pastorais, nossas liturgias, nossas equipes. Às vezes, a gente quer tudo tão certinho, perfeito, que acaba não avançando nem um passo. Porém, vale mais para nossa vida, a “prudência”, como Jesus diz, significa ser capaz de renunciar a algumas coisas hoje para participar do Reino futuro.
Em sintese, nossa reflexão de hoje quis destacar duas coisas, que são óbvias, mas que, às vezes, esquecemos: Jesus deve ser o ponto de partida de toda a catequese e também que devemos aprender com Jesus a maneira de evangelizar. Então:
  1. A CATEQUESE DEVE COMEÇAR PELA PESSOA DE JESUS.
  2. A CATEQUESE DEVE ENSINAR COMO JESUS ENSINAVA: USANDO FORMAS SIMPLES, MAS QUE LEVEM AS PESSOAS PENSAR.